quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Gente de Verdade


"Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas."
Clarice Lispector


Eu sou dessa gente inteira, por mais que algumas metades me façam repensar nessa afirmação. Quem conhece meu coração sabe que ele é lindo e com uma antiga pureza exacerbada, com gramado verde e flores amarelas, luz... Frutas maduras prontas para serem colhidas apesar dos pântanos negros em sua volta.
Quem olha minha cabeça, sabe que apesar dos poços escuros, existe um pouco de vida em cada um deles, e a luz que fica em sua volta compensa a escuridão que os rodeia.
Sou dessa gente toda pra dentro, que ao reconhecer outra alma com uma pureza e uns apelos de putrefação se abre, se consola, se abraça e se torna dessa gente toda pra fora. Que não tem vergonha do que é, e nem vergonha do que vai ser. Por que essa gente, toda recolhida, nunca vai entender como essa gente de verdade, vive ou morre.

Para ouvir enquanto me lê: Uma delicada Forma de Calor - Zeca Baleiro e Lobão

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Não estraga, por favor!


Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e não porque deu tempo de gostar delas.
Tati Bernardi


Dessa vez queria que fosse diferente. Juro! Queria muito que dessa vez fosse a certa, pra valer! E queria muito que fosse com você. Queria muito aquela noite vendo as estrelas juntos, onde tudo se completa. Queria aquele jantar especial. É com você que queria que fosse minha vida, que cada detalhe dela desse certo, que cada obstáculo que passássemos fosse juntos. Unidos. Queria muito que você fosse diferente do que os outros foram comigo. Gostaria que seu encantamento por mim não se acabasse, que você sempre me defendesse quando falassem algo de mim e eu estivesse longe. Gostaria que você não me desse um bolo ou mentisse, cheio de artimanhas. Queria poder te olhar com cara feia quando eu ficasse bravo, e você cheio de carinhos viesse me fazer cócegas. Queria que você pudesse me olhar nos olhos sempre da mesma forma, mas nunca com pena, dó ou coisas parecidas. Queria ser diferente do que fui com os outros. Me entregar na medida certa, poder te conquistar aos poucos para que seu encantamento comigo não acabasse tão rápido quanto veio. Queria poder sempre te ver, como te vejo agora, com esses olhos de ternura e esse coração tão aberto. Queria poder rir das suas piadas, mesmo que elas fossem sem graça. Poder te olhar, e a cada vez me apaixonar um pouco mais, tendo a certeza que o mesmo acontece com você. Quero te fazer acreditar que eu sou o cara, e que você é o meu. E assim sempre. Eu gostaria que dessa vez fosse de verdade. Sincero, simples e lindo. Então, por favor... Não estraga! De coração não estraga isso. Não estraga o que sinto por você, não estraga essa minha vontade de ter você. Eu não quero ter ódio, nojo ou nada disso quando ouço seu nome. Por favor, seja sempre como você foi comigo desde o dia que nos vimos. Não minta. Pra mim não. Não como fizeram comigo... Isso dói, machuca e tira qualquer forma de carinho que eu poderia ter por alguém. E me fez desacreditar em tanta coisa, me fez passar a ser tão duro com outras. Eu sei, eu sei que você não é o amor da minha vida pois isso não existe, não acredito mais. Assim como Papai Noel, Coelho da Páscoa sabe? Se tornou folclore. E só. Mas eu sei que é você que eu quero. E eu queria tanto, tanto que fosse dessa vez. Queria tanto pode ter a certeza que tudo ficaria bem, e que seu colo estaria ali sempre, sempre.
Não te obrigo a ficar comigo, a sentir nada por mim. Mas por favor, não tire a admiração que sinto por você, e nem quebre um pouco mais meu coração. Ele está tão trincado, não sei se resistiria a uma nova queda.

Para ouvir, enquanto lê: Adele - Turning Tables

segunda-feira, 11 de julho de 2011

e vai continuar sendo você!


A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro.
[Caio F. Abreu]

Eu abro a janela, e através dela sinto aquela brisa suave que me lembra você. Me lembra a suavidade que se tornou minha vida quando você passou a ser uma das principais partes dela. Me lembra como é bom, como está sendo bom poder te sentir a cada novo detalhe do nosso ‘nós’ tão cheio de vida, tão cheio de amor. Antes, minha vida estava como um quarto escuro, em que eu estava lá dentro, em um cantinho bem quietinho. Sem novidades, sem grandes esperanças. Eu estava há um tempo sem sorrir de verdade, sem entender o que é estar bem-todos-os-dias. Mas então, ao longe enxerguei um sorriso, lindo... Tão lindo que não me permitiu entristecer por nenhum segundo. Um sorriso em que eu enxergava sua beleza, sua magnitude, sua verdadeira face que até então era desconhecida pra mim. Fui me aproximando, com medo desse sorriso lindo não poder fazer parte da minha vida, fui com cuidado... Mas antes que eu tropeçasse você me abraçou forte, me segurou e fez com que ali eu entendesse como essa vida é. Olhei nos seus olhos e ali eu vi tudo, tudo que precisava pra continuar. Olhei e dentro deles estavam suas marcas do passado, suas tristezas, suas alegrias, seu amor... Olhei mais fundo e pude ver tudo que sonharíamos juntos. E então, eu te apertei forte, te abracei e senti que aquele era meu lugar e ali era onde eu deveria estar.
E então, têm sido assim. Dias lindos, quentinhos e com muita ternura. Dias em que quando durmo, não vejo a hora de chegar o outro dia para poder estar mais com você. Dias em que quero fazer de você a pessoa mais feliz do mundo!
E eu quero tanto! Quero poder te acordar com um café na cama e beijinhos no pescoço. Quero realizar seus desejos e fazer com que cada um deles sejam especiais. Quero poder olhar nos seus olhos, sempre com a certeza que eles estarão me olhando de volta e que a cada sensação sejamos renovados, retocados juntos pelo tempo.
Quero você e meu futuro juntos, podendo olhar para o mesmo lado e pensar nos mesmos objetivos. Quero pintar sorrisos em seus lábios e fazer de você a pessoa mais feliz do mundo.
Quero ter você, seus amigos, sua família e todo seu amor, seu afago, seu carinho. Quero ser sua parte mais bonita, seu maior orgulho e sua maior conquista. Quero ser seu ponto fraco, seu amigo, seu amante, seu companheiro. Quero ser seu sorriso no intervalo das horas e quero ser aquele em que você pode confiar, e seguir sem medo.
Quero poder te encontrar nos meus sonhos e acordar sabendo que tudo aquilo faz parte de mim, da minha vida.
Quero poder gargalhar contigo, enquanto faço carinhos em seus cabelos pensando: Como eu sou sortudo... Que bom meu Deus, que bom!
E então estar com você se tornou a melhor parte do meu dia. Estar assim, abraçados, nos completando a cada novo toque, a cada novo sorriso.
E é você, e vai continuar sendo você a minha melhor parte!

Para ouvir enquanto lê: Teenage Dream - Glee Cast Version

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Apenas uns borrões


Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar.

Caio Fernando Abreu

Com cansaço, com uma estupidez imensa e farto de expectativas infundadas eu paro em um desses bancos de praça - que me lembra a simplicidade da vida – sento, e choro. Choro muito, choro com força, fazendo caras, dramas mexicanos, explorando minha face... Eu choro e me entrego nesse choro de melancolia, desprezo, saudade. Choro por tudo, tudo que deveria ter sido e não foi. Choro pela manhã de inverno que eu gostaria de ter sido acordado aos beijos enrolado em seu edredom. Choro pelo vento que toca minha pele, e sei que você não estará lá para me livrar do frio... Choro pelo futuro que desenhei, mas não passou de um esboço, de um desenho esquecido no canto de uma velha penteadeira.
Eu choro pelas marcas que meu coração adquiriu, por mais uma parte da minha inocência perdida, rabiscada, rasurada... Eu choro por não poder te segurar em meus braços e dizer: Não seja tolo, não me perca! Outro de mim você não achará tão fácil. Outro que te ama a tal ponto de se desvencilhar de todas as qualidades e te entregar. Alguém que te ama tanto, que chegou na maior humilhação do ser humano em rastejar por um bocado de carinho, afeto, abraço... Meu choro mais triste é um só: eu sei que você está me (ou seria ‘se’) perdendo e eu nada posso fazer para mudar isso. Eu não posso te dizer o que deve ser feito, não posso falar sobre o quanto seria importante ter seu sorriso nos meus dias tristes, como esses que estou tendo. Eu não posso chegar e te mostrar o futuro que desenhei para nós, afinal... Qualquer gota d’água pode borrar cada linha que desenhei de tudo que sonhei, de tudo que busquei. O sol com um sorriso, nós de mãos dadas e um mar. Sim, um mar. Daquela viagem que tanto combinamos, e talvez nunca seja feita.
Eu levanto do banco da praça, enxugo minhas lágrimas e continuo na caminhada, nesse corredor de incertezas a respeito do que vai ser, do que irei passar.
Hoje, senti a frieza de sua voz no telefone. Não sei quando, não sei como e nem sei por que você me perdeu dessa forma, só sei que está sendo... Mas ainda há tempo. Não deixe morrer o que sentimos, não deixe que minha luta seja em vão. Hoje, estou cansado. Lutei muito contra mim mesmo todos esses dias e talvez tenha sido bom. Talvez eu só precise de um lugar engraçado, as gargalhadas dos meus amigos, uma dose de vodka, outra de alegria e papos bons. Talvez, eu só precise voltar para dentro de mim e ver o quanto sou importante para passar por tudo isso. Sim, voltar a me amar a tal ponto que apenas pelo fato de estar vivo, eu possa compreender toda a sincronia e beleza de continuar.
Ah, e em relação ao desenho... Esqueça. Os borrões não são gotas de água, são de
lágrimas.

Para ouvir enquanto lê: Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade

quarta-feira, 23 de março de 2011

Diálogo do Afastamento


Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva
Caio Fernando Abreu


- Olha, tá vendo aquela estrela ali?

- Sim. O que tem ela?
- Imagina... Está a milhões de anos luz de nós.
- E nós?
- O que têm?
- Faz tempo, que estamos a milhões de anos luz do coração um do outro.
- É. Faz Tempo.
- Porque você preferiu assim? Qual o sentido de se afastar de mim daquela forma, sendo que quando a gente se afasta o coração sente falta, o coração chora e o pior é que se acostuma. Se acostuma com a falta da presença do outro que aos poucos se torna rotina, normalidade, passividade. Por que se afastar se quando nos olhávamos nem precisávamos de estrela para que nossos olhos brilhassem, não precisávamos nem mesmo de motivo para isso. Ficar longe de mim era um alívio? Uma escolha feita devido ao sentimento de que tudo continuaria igual? Qual o motivo de querer isso pra gente?
- Eu não agüentava, não agüentava todo aquele amor dentro de mim. Estava enraizado em tudo que eu sentia. Suas raízes estavam crescidas dentro do meu coração. E eu não conseguia, não conseguia te tirar de dentro de mim nem que arrancasse você com minhas próprias mãos. Tentei. Juro. To tentando. Eu tive que fazer isso. Tive que fugir. Fugir de você, fugir de nós dois! Mas isso era tão complicado. Você estava dentro de mim e quando alguém se torna parte de nós não sai. Nem há milhões de anos luz longe um do outro. Como fugir de si mesmo?

(Silêncio)

- Tá vendo aquela estrela ali?
- Sim, o que tem ela?
- Ela nos observa lá de longe. Talvez tenha visto nossa história desde o início. O primeiro beijo. A vida feliz. A briga. O afastamento incontido.
- É, talvez, se ela tivesse escolha, não estaria a milhões de anos luz longe da gente.
- Me abraça?
- Sim, minha estrela. Sempre te abracei. Mesmo quando estávamos a milhões de anos luz um do outro...

Para ouvir enquanto lê: Remember When - Avril Lavigne

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A guerra. O jogo. O Amor.


Talvez, afinal, eu devesse parar de bancar o durão e começasse a aprender a: receber cuidados.
Caio Fernando Abreu

Hoje em dia ando mais maduro. Quem não me conhece realmente diria que não, não acham isso de mim devido a certas atitudes que tomo... Outros concordariam sem pestanejar.
Já faz um tempo que não sinto aquele tal impulso de amor por alguém, sabe?
Já faz um tempo em que prefiro observar bem toda a situação (sem que o outro me note) antes de me comprometer demais com isso ou aquilo. Hoje em dia eu sinto um amor como uma guerra. Talvez pelo tanto que já sofri antes... Talvez pelo tanto que sei que ainda vou sofrer, e até porque considero o amor como um pouco de morte. A gente vai deixando de ser a gente, se entregando de uma maneira que nossas partes vitais e únicas vão se desfalecendo num emaranhado de expectativas, medos, frustrações.
Hoje, pelas minhas experiências não muito positivas em relação ao bichinho amor, entro nele como quando um soldado medroso vai para a guerra.
Vou com calma, observando o terreno... Vendo cada detalhe de como meu inimigo (ou seria parceiro?) atua. Sentindo suas vibrações, suas tensões... Sentindo se aquela fofura toda e aquele eu-te-quero-para-sempre não tende a se tornar um nada preso em meio ao vão emaranhado dos sentimentos alheios.
Olho, e então começo a tocar. Toco as partes do corpo, toco a mente e toco o coração de leve. Veja só que ironia, esse tem coração e bate, bate bem forte. Bate agudo, firme e em uníssono. Eu sinto a respiração... Sinto o beijo e... Chega! Já estou sentindo demais, querendo demais, pensando demais.
Agora chega aquela hora, a de entrar no terreno inimigo. Vou pensando com calma em como agir, em quais passos dar e quais os riscos que devo correr. Vou com medo, apreensivo... Não quero pisar em uma granada. Sim. Uma granada daquelas de amor não correspondido, que entra no corpo e vai destruindo cada parte de esperança que ainda tinha. Sabe aquela granada ‘dor’ que invade sem notar e vai entrando em sua carne, seus ossos, seus sentimentos... Piso com cuidado. Calma. Leveza. Vou tentando curtir aquilo como quem está em uma happy night num cassino em Las Vegas. É, porque o amor além de guerra é um jogo. O jogo do perde e ganha, o jogo de palavras onde buscamos as mais procuradas hoje em dia: Amor, respeito, confiança, fidelidade...
Então vou andando, indo de campo de guerra à um Cassino em Vegas em segundos.
Eu quero pisar nesse terreno, quero poder passar por todas as granadas e acertar de vez o coração do meu parceiro-inimigo. E quero ter certeza disso sabe? Quero ter certeza de que ele pisaria nesse campo minado por mim, e sem medo. Sentindo que pode haver granadas, mas pensando que o objetivo final é bem melhor... Bem maior, mais amplo sabe?
Mas acho que pensar num amor como guerra é doloroso. Difícil. Esqueça o que eu disse. Pense no amor como um jogo de sete erros. Buscamos os erros e tentamos arrumar as imperfeições, dando um toque enfim prazeroso a esse jogo todo.
Mas sabe de uma coisa? Acho que eu deveria tentar deixar acontecer... Ir indo junto com as coisas e os sentimentos, e todo o resto. Com paz.
O amor é, acima de tudo uma esperança positiva de que algo irá acontecer e acontece, acontece
É como diz meu mestre: “Barquinho na correnteza, Deus dará!”

Música para ouvir enquanto lê: Espero - Reação em Cadeia

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sissone en Avant


Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.
Caio Fernando Abreu


- Ah não! De novo não... Eu não consigo Maria! Por mais que eu tente... Logo após o salto, eu me desequilibro... Me machuco! Não nasci para isso, devo desistir.
Maria, sua amiga de tantos anos sabia que aquilo não era verdade. Pela sua experiência de vida, sabia que a menina das sapatilhas douradas havia nascido para tal feito. Então, como um golpe de graça exigia cada vez mais de sua amiga e aluna.

- Não fique assim menina, não adianta! Se todas às vezes que cai quando fazia o ‘sissone en avant’ eu resolvesse desistir do ballet eu não estaria aqui com você, te mostrando como fazer os passos, te ensinando a ser cada dia mais uma bailarina completa. Você consegue! É ótima no que faz, agora descanse, depois continuamos.
- Tudo bem Maria, eu acho que preciso descansar mesmo.
- Claro! Vá e amanhã volte com os ânimos renovados.
Enquanto voltava para casa, a menina olhava ao seu redor. Tentava buscar no vento a leveza que precisava para sua dança... Sentia aquela brisa passando pelos seus cabelos, e nela ouvia um som... Suave como um passo de ballet. A brisa refrescante trouxe aquela sua amiga borboleta que há muito tempo já não aparecia. A borboleta, leve como o vento tocou os ombros da menina, ali mesmo pousou e disse:
- Fiquei sabendo que pensou muito em desistir hoje. Desistir? Isso não pode fazer parte do seu vocabulário. Olhe a sua volta... Veja! Todos passam por dificuldades, todos passam por momentos difíceis que pensam que jamais conseguirão conquistar seus objetivos. Todos têm um dia de bailarina, que mesmo que se esforce não consegue fazer um ‘sissone’, caem, se machucam... E mesmo assim se levantam e tentam de novo, de novo e de novo. Vai menina, joga esses seus cabelos ao vento e sinta... Sinta como a vida é isso! A vida é a dificuldade que nos faz cair, a leveza do vento, a borboleta falante e conselheira que vem através da brisa falar com sua pupila. A vida é esse vendaval desenfreado mesmo! A gente erra, cai, apanha, sofre... Mas levanta, consegue e ri! Ri de si mesma pensando que jamais conseguiria tal feito. Ri das pessoas em sua volta que disseram para desistir... Sabe essa coisinha que tá aí no seu coração? A tal decepção por não conseguir o que tanto queria? Ela é um combustível para você tentar mais e mais. Vai menina, brinca com o vento! Dance ciranda com a vida e não desista. Um ‘sissone’ não é nada perto de muita coisa que ainda está porvir. Você é muito para desistir por tão pouco.
Como um passe de mágica a borboleta sumiu. Deve ter ido borboletear com outra pessoa que precisasse entender que nessa vida, um passo errado pode machucar, mas nada impede que você levante e com uma pirueta mostre a alegria de estar vivo e poder tentar de novo.
A menina soltou os cabelos, brincou com o vento, sorriu com o corpo e brindou a vida, saltando... Saltando entre as flores daquela grama verdinha do jardim de sua casa.
Chegou, dormiu e sonhou, sonhou, sonhou, sonhou... Acordando, pensou: O que há de se fazer a não ser tentar?
Vestiu as sapatilhas douradas e saiu cantarolando pela rua mimos a si mesma e cheia de coragem.

Para ouvir enquanto lê: Ciranda da Bailarina - Adriana Calcanhoto

Ps. Amooores! Que saudade de postar para vocês. Mas a correria tá grande demais! Agradeço a consideração de todos. Tenham um dia muito doce!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Lembra da última vez que sorrimos?


Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava.
Caio Fernando Abreu

- É, fazia tempo que não vínhamos nesse bar.
(Suspirou fundo e o silêncio pairou ali por alguns segundos)
- Fazia tempo que não íamos a lugar algum...
- Lembra da última vez que sorrimos?
- Não. Deve fazer muito tempo. Mas lembro que era lindo.
- E faz, faz tempo sim. Acho que faz mais tempo do que o momento em que nos perdemos... E não nos perdemos de uma forma doce, delicada e quase imperceptível. Nos perdemos da forma visceral que sempre fomos! Nos perdemos da mesma forma que foi nosso primeiro beijo: Intenso, real, vivo, perdido... Nos perdemos de um jeito que nem mesmo entendemos. Jogamos-nos do alto de um precipício e quando chegávamos ao chão soltamos nossas mãos, soltamos nossos braços e abrimos ele como se a sensação da queda fosse doce mas não era, não gostávamos da queda mas talvez precisássemos nos perder... Sabe, como quando uma criança perde aquele brinquedo que tanto amava para aprender a dar valor? Pois é... Meu bibelô de Cristal está perdido, quem sabe talvez quebrado, trincado... Sujo sei que está, e não está por perto para eu depositar toda minha parte e todo meu amor que sobra dentro de mim. Nosso amor era tão lindo Menina, lindo de encher os olhos. Lindo de um jeito que até mesmo a lua se invejava de nunca ter vivido algo tão cheio, tão farto que chegava a transbordar pelos nossos olhos. Era lindo, era doce, era limpo e agora está sujo, perdido.
- O que se perde, um dia se encontra?
- Nem sempre, talvez o que se perdeu esteja do seu lado e você não viu porque não quis. Não encontrou porque não procurou. Talvez já não sentisse falta. Talvez aquela outra parte do bibelô de cristal não era tão importante assim... E eu só sei de uma coisa, quando você não procura é porque vive bem sem.
- E o que se quebra, trinca... Tem um jeito de ser consertado?
- Nem sempre. Quem sabe? Mas antes deve ser encontrado.
- Por favor, conserte seu bibelô, talvez ele precise disso mais do que você imagina.
Ele sorriu, e ela com os olhos cheios de lágrima sentia-se de novo aquela coisinha chamada esperança. Aquela coisa que nos conduz a um fio de felicidade tendo certeza que ela um dia vai existir. Vai existir, vai sim. De mãos dadas saíram do bar. O bibelô precisava de um conserto enquanto o seu dono, todo delicado colava e limpava cada parte do seu coração de cristal trincado pelo tempo. Agora sim, a lua já não se inveja desse amor, ela sente orgulho por presenciar algo tão lindo assim.

Para ouvir enquanto lê: De Janeiro a Janeiro - Roberta Campos