terça-feira, 23 de julho de 2013

Transbordar-se


Socorro, alguém me dê um coração que esse já não bate, nem apanha. Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa! Qualquer coisa que se sinta... Em tantos sentimentos deve ter algum que sirva. Cássia Eller

E agora? Por onde eu ando? Isso, eu me perdi de mim! Por onde anda aquele menino dos olhos brilhantes por um futuro que há de vir?
Me busco em cada canto, em cada olhar, em cada sorriso, mas já não me acho. Por onde anda aquela minha pureza? O que tanto fizeram com o que eu acreditava? 

Não sei. Eu não compreendo. Eu acreditei tanto, tanto em tudo! Acreditei em tanto sentimento que me demonstraram, em tanto carinho que me proporcionaram e em tantas palavras bonitas que me disseram. Acreditei em cada toque, e em cada vez que me prometeram: Vou ficar com você para sempre. Ah, mas esse “para sempre” sempre durou tão pouco. Eu acreditei no que me contaram. Acreditei nas palavras, na doçura da alma, sim! Eu acreditei em cada detalhe de todas as tramas inventada apenas para me seduzir, me emaranhar em cada olhar de ressaca que me foi lançado. Eu sonhei junto. Eu acordei junto. Até que um dia eu acreditei tanto, mas tanto, que transbordei. Saiu tudo por aí. Escorreu de mim grande parte da minha fé no amor. Senti vazando pelos meus poros a pureza dos meus sonhos adolescentes. Vi sobressaindo do meu olhar todas as esperanças de encontrar alguém pra dividir a vida. E foi ali que vi transbordar de mim, eu menino.  Eu sonhador. Um eu que realmente acreditava. Me roubaram de mim mesmo. Cada um que passou por mim, levou um pouco da minha alma, da minha fé. Hoje eu me busco de volta, e tento me encontrar em cada detalhe de mim mesmo. Busco-me no meu olhar, entre meus dedos e até mesmo no meu coração. Eu sei que ainda estou por ali, talvez só precise de uma mão pra sair. 

Para ouvir enquanto me lê: Talvez - Clarice Falcão