sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A guerra. O jogo. O Amor.


Talvez, afinal, eu devesse parar de bancar o durão e começasse a aprender a: receber cuidados.
Caio Fernando Abreu

Hoje em dia ando mais maduro. Quem não me conhece realmente diria que não, não acham isso de mim devido a certas atitudes que tomo... Outros concordariam sem pestanejar.
Já faz um tempo que não sinto aquele tal impulso de amor por alguém, sabe?
Já faz um tempo em que prefiro observar bem toda a situação (sem que o outro me note) antes de me comprometer demais com isso ou aquilo. Hoje em dia eu sinto um amor como uma guerra. Talvez pelo tanto que já sofri antes... Talvez pelo tanto que sei que ainda vou sofrer, e até porque considero o amor como um pouco de morte. A gente vai deixando de ser a gente, se entregando de uma maneira que nossas partes vitais e únicas vão se desfalecendo num emaranhado de expectativas, medos, frustrações.
Hoje, pelas minhas experiências não muito positivas em relação ao bichinho amor, entro nele como quando um soldado medroso vai para a guerra.
Vou com calma, observando o terreno... Vendo cada detalhe de como meu inimigo (ou seria parceiro?) atua. Sentindo suas vibrações, suas tensões... Sentindo se aquela fofura toda e aquele eu-te-quero-para-sempre não tende a se tornar um nada preso em meio ao vão emaranhado dos sentimentos alheios.
Olho, e então começo a tocar. Toco as partes do corpo, toco a mente e toco o coração de leve. Veja só que ironia, esse tem coração e bate, bate bem forte. Bate agudo, firme e em uníssono. Eu sinto a respiração... Sinto o beijo e... Chega! Já estou sentindo demais, querendo demais, pensando demais.
Agora chega aquela hora, a de entrar no terreno inimigo. Vou pensando com calma em como agir, em quais passos dar e quais os riscos que devo correr. Vou com medo, apreensivo... Não quero pisar em uma granada. Sim. Uma granada daquelas de amor não correspondido, que entra no corpo e vai destruindo cada parte de esperança que ainda tinha. Sabe aquela granada ‘dor’ que invade sem notar e vai entrando em sua carne, seus ossos, seus sentimentos... Piso com cuidado. Calma. Leveza. Vou tentando curtir aquilo como quem está em uma happy night num cassino em Las Vegas. É, porque o amor além de guerra é um jogo. O jogo do perde e ganha, o jogo de palavras onde buscamos as mais procuradas hoje em dia: Amor, respeito, confiança, fidelidade...
Então vou andando, indo de campo de guerra à um Cassino em Vegas em segundos.
Eu quero pisar nesse terreno, quero poder passar por todas as granadas e acertar de vez o coração do meu parceiro-inimigo. E quero ter certeza disso sabe? Quero ter certeza de que ele pisaria nesse campo minado por mim, e sem medo. Sentindo que pode haver granadas, mas pensando que o objetivo final é bem melhor... Bem maior, mais amplo sabe?
Mas acho que pensar num amor como guerra é doloroso. Difícil. Esqueça o que eu disse. Pense no amor como um jogo de sete erros. Buscamos os erros e tentamos arrumar as imperfeições, dando um toque enfim prazeroso a esse jogo todo.
Mas sabe de uma coisa? Acho que eu deveria tentar deixar acontecer... Ir indo junto com as coisas e os sentimentos, e todo o resto. Com paz.
O amor é, acima de tudo uma esperança positiva de que algo irá acontecer e acontece, acontece
É como diz meu mestre: “Barquinho na correnteza, Deus dará!”

Música para ouvir enquanto lê: Espero - Reação em Cadeia

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sissone en Avant


Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.
Caio Fernando Abreu


- Ah não! De novo não... Eu não consigo Maria! Por mais que eu tente... Logo após o salto, eu me desequilibro... Me machuco! Não nasci para isso, devo desistir.
Maria, sua amiga de tantos anos sabia que aquilo não era verdade. Pela sua experiência de vida, sabia que a menina das sapatilhas douradas havia nascido para tal feito. Então, como um golpe de graça exigia cada vez mais de sua amiga e aluna.

- Não fique assim menina, não adianta! Se todas às vezes que cai quando fazia o ‘sissone en avant’ eu resolvesse desistir do ballet eu não estaria aqui com você, te mostrando como fazer os passos, te ensinando a ser cada dia mais uma bailarina completa. Você consegue! É ótima no que faz, agora descanse, depois continuamos.
- Tudo bem Maria, eu acho que preciso descansar mesmo.
- Claro! Vá e amanhã volte com os ânimos renovados.
Enquanto voltava para casa, a menina olhava ao seu redor. Tentava buscar no vento a leveza que precisava para sua dança... Sentia aquela brisa passando pelos seus cabelos, e nela ouvia um som... Suave como um passo de ballet. A brisa refrescante trouxe aquela sua amiga borboleta que há muito tempo já não aparecia. A borboleta, leve como o vento tocou os ombros da menina, ali mesmo pousou e disse:
- Fiquei sabendo que pensou muito em desistir hoje. Desistir? Isso não pode fazer parte do seu vocabulário. Olhe a sua volta... Veja! Todos passam por dificuldades, todos passam por momentos difíceis que pensam que jamais conseguirão conquistar seus objetivos. Todos têm um dia de bailarina, que mesmo que se esforce não consegue fazer um ‘sissone’, caem, se machucam... E mesmo assim se levantam e tentam de novo, de novo e de novo. Vai menina, joga esses seus cabelos ao vento e sinta... Sinta como a vida é isso! A vida é a dificuldade que nos faz cair, a leveza do vento, a borboleta falante e conselheira que vem através da brisa falar com sua pupila. A vida é esse vendaval desenfreado mesmo! A gente erra, cai, apanha, sofre... Mas levanta, consegue e ri! Ri de si mesma pensando que jamais conseguiria tal feito. Ri das pessoas em sua volta que disseram para desistir... Sabe essa coisinha que tá aí no seu coração? A tal decepção por não conseguir o que tanto queria? Ela é um combustível para você tentar mais e mais. Vai menina, brinca com o vento! Dance ciranda com a vida e não desista. Um ‘sissone’ não é nada perto de muita coisa que ainda está porvir. Você é muito para desistir por tão pouco.
Como um passe de mágica a borboleta sumiu. Deve ter ido borboletear com outra pessoa que precisasse entender que nessa vida, um passo errado pode machucar, mas nada impede que você levante e com uma pirueta mostre a alegria de estar vivo e poder tentar de novo.
A menina soltou os cabelos, brincou com o vento, sorriu com o corpo e brindou a vida, saltando... Saltando entre as flores daquela grama verdinha do jardim de sua casa.
Chegou, dormiu e sonhou, sonhou, sonhou, sonhou... Acordando, pensou: O que há de se fazer a não ser tentar?
Vestiu as sapatilhas douradas e saiu cantarolando pela rua mimos a si mesma e cheia de coragem.

Para ouvir enquanto lê: Ciranda da Bailarina - Adriana Calcanhoto

Ps. Amooores! Que saudade de postar para vocês. Mas a correria tá grande demais! Agradeço a consideração de todos. Tenham um dia muito doce!