sexta-feira, 24 de junho de 2011

Apenas uns borrões


Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar.

Caio Fernando Abreu

Com cansaço, com uma estupidez imensa e farto de expectativas infundadas eu paro em um desses bancos de praça - que me lembra a simplicidade da vida – sento, e choro. Choro muito, choro com força, fazendo caras, dramas mexicanos, explorando minha face... Eu choro e me entrego nesse choro de melancolia, desprezo, saudade. Choro por tudo, tudo que deveria ter sido e não foi. Choro pela manhã de inverno que eu gostaria de ter sido acordado aos beijos enrolado em seu edredom. Choro pelo vento que toca minha pele, e sei que você não estará lá para me livrar do frio... Choro pelo futuro que desenhei, mas não passou de um esboço, de um desenho esquecido no canto de uma velha penteadeira.
Eu choro pelas marcas que meu coração adquiriu, por mais uma parte da minha inocência perdida, rabiscada, rasurada... Eu choro por não poder te segurar em meus braços e dizer: Não seja tolo, não me perca! Outro de mim você não achará tão fácil. Outro que te ama a tal ponto de se desvencilhar de todas as qualidades e te entregar. Alguém que te ama tanto, que chegou na maior humilhação do ser humano em rastejar por um bocado de carinho, afeto, abraço... Meu choro mais triste é um só: eu sei que você está me (ou seria ‘se’) perdendo e eu nada posso fazer para mudar isso. Eu não posso te dizer o que deve ser feito, não posso falar sobre o quanto seria importante ter seu sorriso nos meus dias tristes, como esses que estou tendo. Eu não posso chegar e te mostrar o futuro que desenhei para nós, afinal... Qualquer gota d’água pode borrar cada linha que desenhei de tudo que sonhei, de tudo que busquei. O sol com um sorriso, nós de mãos dadas e um mar. Sim, um mar. Daquela viagem que tanto combinamos, e talvez nunca seja feita.
Eu levanto do banco da praça, enxugo minhas lágrimas e continuo na caminhada, nesse corredor de incertezas a respeito do que vai ser, do que irei passar.
Hoje, senti a frieza de sua voz no telefone. Não sei quando, não sei como e nem sei por que você me perdeu dessa forma, só sei que está sendo... Mas ainda há tempo. Não deixe morrer o que sentimos, não deixe que minha luta seja em vão. Hoje, estou cansado. Lutei muito contra mim mesmo todos esses dias e talvez tenha sido bom. Talvez eu só precise de um lugar engraçado, as gargalhadas dos meus amigos, uma dose de vodka, outra de alegria e papos bons. Talvez, eu só precise voltar para dentro de mim e ver o quanto sou importante para passar por tudo isso. Sim, voltar a me amar a tal ponto que apenas pelo fato de estar vivo, eu possa compreender toda a sincronia e beleza de continuar.
Ah, e em relação ao desenho... Esqueça. Os borrões não são gotas de água, são de
lágrimas.

Para ouvir enquanto lê: Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade