sexta-feira, 22 de junho de 2012

Meu céu, as vezes nubla...


Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.
Clarice Lispector



Quando somos pequenos, sempre que algo nos dá medo corremos para os braços dos nossos pais. Sim, sem nem pensar duas vezes. A primeira coisa que fazemos é nos encolher, nos cobrir com qualquer coisa que esteja por perto e esperar, até que possamos olhar pela fresta do cobertor e correr para o colo cheio de afago dos nossos pais. Vamos crescendo, e dessa forma achamos que somos sempre seres que não devem sentir medo, seres invencíveis pelas coisas que já passou na vida, seres que sempre conseguem vencer todos os obstáculos. E realmente vencemos, realmente somos capazes. Mas de vez em sempre, alguns obstáculos agem como pequenos bichinhos. Entram na gente, nos dói, nos machuca, nos fere, nos enche de nós... Nós apertados, nós que comprimem nosso coração e doem tanto dentro da gente, que nos sentimos novamente aquela criancinha, é, aquela mesmo no cantinho do quarto assustada. Pensando em tudo, tudo que poderia acontecer conosco caso nos descobrissem ali, debaixo da coberta. Aquele menininho de pantufas e pijama azul céu refletindo no escuro do quarto com medo dos fantasmas, dos bichos papões, das bruxas... Mas agora, nossos fantasmas também cresceram, estão mais fortes e mais medonhos. Os bichos papões nos pegam pelo coração, nos arranha e nos maltrata. As bruxas? Ficam em nossa cabeça, dizendo tudo aquilo que não deveríamos nem sequer cogitar em acreditar. E é nessas horas, nesses momentos que volto a ser aquela criança que tudo que mais quero fazer é pular no colo do meu pai e fazer com que ele me proteja de tudo, ou correr no abraço da minha mãe e sentir a mão dela no meu cabelo dizendo: Filho vai passar, vai passar. E passa. Quase todo dia. E ao passo que meu mundo vai, vai realmente passar. Hoje meu céu está nublado, mas amanhã vai sair o maior sol, eu sei.

Para ouvir enquanto me lê: Vienna Teng - Lullaby For A Stormy Night