quarta-feira, 27 de outubro de 2010

História de um amor unilateral


Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida.
Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás.
Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu.
Caio F. Abreu

E então, num duro golpe de palavras ele disse-lhe de forma transparente:
- Não te quero. Nunca te quis... Será que você não entende?
Ela louca por ele, fitando-o de forma descompassada disse-lhe:
- Eu não entendo. Não posso entender como fiz de você uma razão pra viver! Não posso entender como alguém passa a amar mais a outra pessoa que a si mesma... Quer dizer, eu sei, eu amo. Eu te amo e te odeio todos os dias, por cada segundo que passo é assim! Meu amor por você é tão alienado que passo a crer até mesmo em mentiras incabíveis quando te olho. Ah, quando te olho... Esse mundo de crendices, desafetos e amarguras desaparecem. Quando eu te olho eu me acalmo e me sinto mais perto de mim mesma, sinto minha alma saindo pela minha carne e penetrando em meus poros.
Eu te odeio tanto, tanto! Te odeio tanto por não corresponder a esse amor, que mesmo sujo, tolo, sem graça, exposto em sangue... É o que me limpa de estar viva mesmo sem querer. Querer, sim eu quero. Eu quero você! Te quero por nós dois. O meu amor é tão grande que ultrapassaria as barreiras dos desejos ocultos em você e faria você me olhar com os olhos de carinho e ternura. Eu te amo tanto, que é por você que espero todos os dias ainda naquela praça... Sentada com minhas sapatilhas cor-de-rosa, aguardando um encontro que ficou prometido só nas entrelinhas dos meus pensamentos. Tenho tanta coisa para te dizer! Tanto sentimento-abobalhado-aumentado-exagerado para lhe mostrar.
Vem comigo, afunde, lute, brinque, sorria ao ver meu sorriso... Eu te preciso tanto!
Me deixa chafurdar nessa dor de sentimentos exagerados, eles fazem eu me sentir mais viva, mais menina serelepe brincando de dança de roda... A vida sem você é muito ruim meu companheiro. Sem cor, nem mesmo dor... Nem nada.

Ele então lhe deu um abraço apertado, beijou-a na testa com todo respeito que sentia pelo sentimento da menina e saiu calado, andando pela noite fria. Provavelmente seguiria sua vida, conheceria outras moças, outros gostos, outros cheiros... É o ciclo.
A menina princesa de um castelo desabitado, de um príncipe sem cavalo branco, por sua vez, alternando entre os soluços e lágrimas, sentiu um alívio tremendo por enfim dizer tudo que sentia, tudo que saía de cada parte de sua carne viva tão cheia de cicatrizes.
E então ela também saiu andando, com um sorriso doce no canto da boca e lágrimas escorrendo em sua face. Enquanto andava com o coração leve se enchia de Vinícius de Moraes e cantava, amargurada porém com uma pontinha de esperança que tudo um dia podia mudar: "
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tranqüila depois de leve oscila... E cai como uma lágrima de amor!"

Dica: Música Felicidade, de Vinícius de Moraes, clique aqui para ouvir!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Doa-se um coração.


Um café e um amor. Quentes, por favor.
Caio F. Abreu

Doa-se um coração. Espaçoso e confortável, esse coração está a disposição de quem o quiser. Ele já teve alguns donos, talvez por isso tenha ainda tantas rachaduras em sua parte interna. Ele possui algumas feridas recém cicatrizadas, mas que ainda doem de vez em quando.
Doa-se um coração amoroso, fiel e leal. Esse coração já está cansado de bater tão forte e tão rápido. Eu, como seu hospedeiro sou o culpado, minha intensidade fez com que ele apanhasse muito mais que batia. Esse coração tem espaço de sobra para quem queira habitar nele e vontade imensa de ser cuidado por alguém. Seu último dono não o tratou com delicadeza, aumentou seus buraquinhos e acabou quebrando uns pedacinhos de esperança que ainda sobravam.
Estou doando esse coração para que você, seu novo dono, possa me desafogar dessa correnteza de problemas que parecem não ter fim. E não só para isso, mas para me provar que tenho que acreditar em tudo de novo, e que eu queira doar-me inteiro, em cada detalhe. O novo morador desse coração deve aprender que antes de entrar e se hospedar, tem que cuidar de cada cômodo de afeto e amor outrora destruídos. Ele tem que entrar com cuidado, para que não desmorone o teto de carinho que ainda existe nele e está por um fio...
O novo morador tem que fazer uma limpeza geral e de lá tirar todas as tristezas que o coração tão abatido já sofreu. Tem que entrar com calma e vigor, tranqüilidade e boa vontade. Só assim ele vai conseguir fazer com que o coração sobreviva para um novo ciclo.
Doa-se um coração que está farto de se doar e doer tanto, mas que quer ser habitado por alguém que realmente o mereça.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vem, eu ainda te espero.

Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. (...) E eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Caio Fernando Abreu

A ansiedade pela sua espera tem tomado conta de mim.
Sabe, você está entre todos os meus passeios e devaneios e também em qualquer mera tentativa de felicidade recíproca. Você está naquela tarde vazia, onde em minha solidão escrevi mais um de meus textos. Você está naquele dia chuvoso, onde sozinho eu assistia a chuva acariciando lentamente as folhas. Você participou daquele meu choro, onde agarrado em meu travesseiro eu só queria seu abraço, seu afago, meu futuro.
Comigo, você esteve, quando passei a admirar de forma verídica a beleza das flores e cada cor de suas pétalas.
Foi você que esteve comigo quando sentei a beira do mar e senti a brisa me mudando, modificando, acalmando essa espera alucinada por você. O vento forte me moldando como molda o relevo, ou uma grande montanha cheia de vivências, experiências, descrenças.
Foi por você que esperei esse tempo todo, foi para você que cada ínfimo detalhe do meu corpo foi feito. Você que participou comigo da ausência de sentimentos que fizeram parte da minha ciranda infindável.
Então venha, apareça!
Não me faça desacreditar em sua existência. Não me faça crer que você é apenas uma idéia ilusória que criei para não me afundar em amargura e espera. Não me deixe acreditar no que eles dizem, no que eles conspiram para que eu acredite. Se mostre!
Vem e me aperta, me gela, me esquenta, me beija, me faça acreditar que te esperei por esse tempo todo e valeu a pena! Vem, que eu libero o espaço entre os meus abraços e te aperto, te cuido, te acaricio, te existo em mim de uma maneira descomunal.
Vem que eu te toco com os olhos de carinho e te beijo com as mãos de ternura!
Eu estou aqui, tenho tudo de mim para dar. Tenho um coração pronto pra te receber, cheio de espaço, cheio de amor, cheio de nós.
Então vem, enquanto eu ainda acredito! Enquanto ainda tenho forças. Vem!

* Obrigado pelos novos seguidores! MUITO grato por todos vocês amores. *-*

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Borboleteando entre as palavras


Sei que é primavera porque sinto um perfume de pólen no ar.
Clarice Lispector

E enquanto a Roda Furiosa da vida girava, a menina olhava e observava cada detalhe daquela fada-inseto. Via crescer em suas asas uma grande força, suas antenas sentia cada detalhe do mundo exterior em sua volta e tranquilamente, borboleteava entre as flores e o pólen.
Curiosa como sempre foi, a menina perguntou a borboleta:
- Como você pode ser assim, tão leve?
A borboleta, com voz de cumplicidade disse:
- Eu passei por muita coisa antes dessa leveza. Já me rastejei como uma lagarta, sentido cada gosto de chão sujo... Já sofri mudanças que imaginei não sair viva de nenhuma delas. Fiquei presa e me senti totalmente acuada dentro de um casulo.
- E como chegou até aí? – perguntou-lhe a menina que lhe fitava de forma esperançosa.
- Lutei com todas as forças para sair do meu casulo, lutei com força e habilidade. Precisava ver como o meu céu particular estava lá fora. É o ciclo mocinha, primeiro nos rastejamos, depois ficamos presos e apenas com muita força de vontade saímos da escuridão e conseguimos atingir a leveza de sentir a tranqüilidade de mais um dia bem vivido.
Depois de ouvir as palavras da borboleta, a menina saiu por aí com seu cabelo de fita balançando ao vento, pode sentir a brisa e a leveza de borboletear entre o caos e a vida.